domingo, 19 de agosto de 2012

Duas alianças

Dona Íris, muito querida em Ibertioga, é avó da Marina e da Betânia. Ela não gosta de tirar retrato e não repete a pose nem se todo mundo disser “saiu de olho fechado!”

Em Ibertioga, algumas figuras são lendárias. E Dona Íris é uma delas. Todo mundo costuma cumprimentá-la enquanto ela está dando uma volta na praça “quentando sol”. Ela é uma simpatia e tem um jardim cheio de flores lindas. Acho que não somos parentes (mas em Ibertioga todo mundo é meio primo, por isso o "acho”), mas na minha casa todo mundo gosta muito dela - especialmente a Dona Neuza. A Marina, uma das netas, mandou uma historinha que é a cara dela:
Cresci escutando minha minha Vó Íris dar muita importância ao casamento, a marido, filho, família etc. Ela é superfalante. Cheia de conselhos e desesperos. 
Um dia desses falei que me “rogou uma praga”. Ao perguntar minha idade, disse que estava com quase 30 anos e que não tinha namorado. Ela colocou a mão no rosto, fez uma cara de piedade e falou “coitada minha filha, vai ficar pra titia! Tem que arrumar um namorado”. Disse pra ela que ainda estava em tempo e que eu não estava preocupada com isso. Ela continuou lamuriando, com peninha de mim. 
Para outra prima aconselhou que um marido era muito importante pois “já imaginou se a lâmpada queima? Tem que ter alguém pra trocar!”.
Imagino quantos conselhos matrimoniais ela já deu por aí: “mulher sozinha não é feliz”.
Uma vez me contou como era o namoro antigamente: “não podia pegar nem na mão!”. Falei: “que namoro chato, hein Vó?!”. Ela riu, falou que não era chato e disse que sente saudades de ‘namorar com’ meu avô. 
Depois falou que olha pro banco da praça da igreja e vê os dois sentados, juntos, até hoje. Mostrou que anda com as duas alianças: a dela e a dele. Eu também me lembro disto, Vovó. E lembrando a cena acredito que não era nada chato, e sim muito bonito.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Os segredos da Dona Vige

Vige é avó da Isabela, Gabriela, Cíntia e Tati, e tem agora a segunda leva, o Davi e o Lucas (foto): ela teve dois filhos e, segundo o tio Moacir, continuou viRge


Hoje é aniversário da Isabela e da Gabriela, minhas primas gêmeas que deram pra tia Vige os bisnetinhos que ela tem aí no colo: o Lucas (maior) e o Davi (que há poucos meses tava pequenininho, mas agora tá enorme já!).
Ela é uma avó super gracinha e atenciosa, tem um pão de queijo imperdível e um dos segredos pra ficar tão gostoso é que ele sova muito a massa. Parece fácil, mas ninguém consegue fazer igual!
Eu adoro pensar na piada que o tio Moacir fala toda vez que encontra com ela: “A Vige, minha cunhada, é a única mulher que teve dois filhos e continuou ViRge” rs

Casca de tangerina

 Jequitinhonha, onde nasceu o poeta Cláudio Bento: a orla do rio o inspirou a escrever sobre a sua avó, sua infância


Quando olho para trás
Para o longo da minha vida

O que sinto
É um forte cheiro de infância
Um forte cheiro de casca de tangerina
De torresmo fritando na panela

E a voz grave de minha avó
Me alertando para o temporal

Quando olho para trás o que vejo
São versos quebrados varridos pelo vento
O que sinto é um forte cheiro de vida e de morte

E a voz grave de minha avó
Me chamando para o almoço

(Por Cláudio Bento, do livro Inventário da Infância) 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

“Da próxima vez você vai ver”

Dona Lourdes, avó da Karla Damiani: frases de efeito e aula de salto alto


“Minha avó foi muito presente no final da minha infância e no início da minha adolescência. Foi ela quem me ensinou a andar de salto alto. Ela não ia à mercearia sem um saltinho e um batom. E tem várias frases engraçadas, tipo ‘Tirou 10? Não fez mais do que sua obrigação. Quero ver tirar 11’ e 'Não namore, estude. Paquere, paquere muito. Mas não namore. Homem só atrasa a vida estudantil da mulher!' E tem um causo real do qual gosto muito:
Uma vez estava aos beijos no portão do prédio onde morava com a minha avó. Uma vizinha foi falar mal de mim para a minha avó que respondeu:
- Você está incomodada porque sua neta é chata, feia e não namora ninguém.
Em seguida, ela me chamou e disse que da próxima vez que ela ouvisse reclamação minha, eu ia ver... Aliás, 'eu ia ver' é uma ameaça ótima: não diz nada, mas diz o suficiente.”

segunda-feira, 6 de agosto de 2012